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A POLÍTICA DO ENFRENTAMENTO

 

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Por vários períodos tentamos institucionalizar processos políticos e eleitorais recomendados em “manuais” de ciência política. Basicamente, as orientações conceituais são aquelas surgidas no mundo europeu moderno. Democracia, Estado de Direito, Cidadania foram forjados fora de nossas habitualidades e nos esforçamos para tentar acompanhar o “mundo desenvolvido” engajados nos mais altos níveis de amadurecimento político.

Nossa história é originada como Colônia Portuguesa na América (1500-1822), que passa para um Estado Independente (07/09/1822) e que após um curto período monárquico é declarada República (15/11/1889). Tudo isso de modo muito diferente dos carimbos de tradição europeia utilizados para compreender nossa vida política.

Nossos Partidos Políticos assombram a existência como organizações privadas e independentes, como estrutura-organizacional de empresa privada, com proprietários e mandatários e subordinados. Ao mesmo tempo mantêm-se por meio de recursos públicos (e privados). Sua artéria política define o patronato e se firma como meio de acesso ao poder institucional do Estado.

Os cargos comissionados não são mais do que arranjos de clientela e dependência entre “amigos” de Partidos Políticos. Nas eleições se dissolvem em “coligações”, e após eleitos se dissimulam em “blocos” de interesses. Os Partidos deixam de ser. Não há carga ideológica definida, nem direita, nem esquerda, apenas interesses em administrar recursos públicos e a agenda de definição política. E o Presidencialismo de Coalizão leva esse aspecto ao seu extremo clientelista.

Nessas eleições o eleitor [que vota e não sai da cabina cidadão], acaba de remodelar as mensagens eleitorais e políticas. A surpresa para todos nós foi verificar, encarnada nos resultados eleitorais recentes, que os eleitores não querem mais devotar sua energia para candidatos que, de eleição em eleição, nos seduzem com “programas de governo”, promessas de solução, garantias do “eu vou fazer” e a distribuição antecipada de um futuro edênico.

A resposta foi simples e intensa: estamos cansados de votar e votar, de acreditar que eleição pode melhorar efetivamente nossas vidas. E quando parece melhorar vem a desfaçatez da propina, da cueca, dos caixas 2 e 3, dos privilégios, dos benefícios seletivos... Depois de tantas eleições os problemas de todos os dias continuam nos mesmos lugares e da mesma forma: creches e escolas, segurança, postos de saúde sem poder oferecer atendimento adequado... E mais uma eleição... E todos os problemas ali... E mais uma eleição... E todos os problemas ali...

Como categoria de análise e somente neste âmbito, Bolsonaro não é mais do que o símbolo da resposta sobre a Fadiga Política. Seus eleitores não estão interessados em planos de governos e promessas lendárias, mas em Política de Enfrentamento; seus eleitores parecem ter a necessidade de impor uma nova forma de “ente político”. E seus eleitores não desejam uma ruptura institucional ou um golpe de Estado, até porque estão votando. Seus alvos são a Política Patrimonialista que transforma o coletivo e público em privado e pessoal [ainda que seus próprios candidatos possam estar marcados por essas mazelas].

Como categoria de análise e somente neste âmbito, Bolsonaro não é uma onda passageira, mas o símbolo da Política de Enfrentamento, uma Bandeira do Combate Político. Outros poderiam ocupar essa posição. Não importa quem seja: o que importa é o enfrentamento. O PSL [que muitos não saberiam traduzir a sigla] é o campo que limita o território para onde as “armas” dos seus eleitores são carregadas: o voto. Não adiantou dimensionar os deslizes do candidato e de seu vice e de tantos outros e não adiantará apresentar os melhores planos de governo. Os eleitores elencaram outras necessidades.

Como categoria de análise e somente neste âmbito, podemos afirmar que o eleitorado mudou suas referências e seus valores políticos nas eleições e boa parte dos Institutos de Pesquisa e dos Analistas Políticos não conseguiram captar e entender esses valores comportamentais que relacionam muitos [mais de 46%] numa busca contra a política de sempre. Não é uma ideologia de esquerda ou de direita [categorias de análise deslocadas com suas purezas teóricas muitas vezes estranhas ao nosso viver cotidiano], mas uma Atitude firmada na fadiga política que, depois de muitas eleições, não resolveu os problemas que afligem a população brasileira.

Nossa Democracia e nossa Cultura Política, que surgiu torta e sem povo, fraca e faminta, só poderá ser revigorada quando se enxergar no espelho, ver a si mesma e reconhecer seus desajustes. Essa tarefa é nossa! Vem aí as AULESTRAS EXITUS! Aguarde!

 

Crédito da foto: Agência Brasil. 



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