A REPÚBLICA E SEU PLEONASMO: IMPESSOAL
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
Dia após dia, a política não deixa nenhum espaço para o tédio. Cada enxadada uma minhoca! Temperatura de vulcão! A despeito da saída de ministros de áreas muito importantes para a política brasileira e para o desenvolvimento nacional, a forma mais abrangente do debate é sobre o tipo de Estado que se desenrola. Ainda não está claro, mas vários elementos persistem.
O Personalismo é parte integrante de nossa Cultura Política. Falamos, a todo o tempo, do governo deste e daquele personagem, das carreiras infindáveis de vereadores, deputados e senadores ou de seus descendentes dinásticos. Quanto maior o peso das pessoas, menor a intensidade das instituições.
Uma ferida pustulosa do Personalismo é o Patrimonialismo Político. Aqui cada eleito se considera dono do cargo e do poder e os usa como patrimônio pessoal ocupando as vagas de comissionados como compensação eleitoral ou partidária. Tudo com o dinheiro de impostos pagos por mim e por você.
Mais do que aparência, todo o entorno atualizado do debate está simplificado por acusações de socialistas e bolsonaristas, oposição e situação. Pensamento maniqueísta, manipulador e limitador da interpretação argumentativa: dane-se o fato-senhor; a conclusão já está pronta e falta apenas acomodar a justificativa.
Nesse apontar de dedos acusadores, ser oposição ou situação sempre apresenta tem o governo, e não a população e o país, como ponto de referência: os bons contra os maus, os corretos contra os errados. De repente, e não mais do que de repente, a população fora esquecida numa conversa de esquina qualquer e seus interesses dormem ao relento frio.
Com raios e trovões, e num sentido de que quanto mais intenso o problema, mais intempestiva a solução, o drama é sobre o Estado capenga brasileiro. Uma estrutura política que nasce para ser impessoal, mas nunca o é; que cresce para distribuir riquezas, mas cria privilegiados; que amadurece para assegurar desenvolvimento, mas é uma eterna incerteza crítica.
A clarividência da fraqueza republicana do Estado se revela nas mãos indecorosas da corrupção, nos comportamentos de intervenção por interesses pessoais, familiares ou de pequenos grupos, no avanço pessoal sobre o que é estruturalmente institucional. O desprezo por Instituições estão aparentes quando se promove o “Salvador Patriota” ante “Fantasmas Ideológicos”, sejam quais forem.
As instituições, por sua necessidade de independência e autonomia, se fortalecem pelos comportamentos de impessoalidade combinada com interesse coletivo. Em nossa história pode parecer estranho, mas diante dos tantos estragos e abalos, o Exército tem a mais recente simbologia democrática e a Polícia Federal, como Política de Estado e não de pessoas ou governos, parece pavimentar o caminho de luta contra o personalismo e o Patrimonialismo – expressos na Lava Jato.
Os eleitos tornam-se líderes políticos, é verdade, mas não como os donos do poder. Deveriam estar de passagem, mas se perpetuam pelo “sangue azul”. Quem sabe, após a defesa do Estado Republicano, possamos defender políticas de desenvolvimento, de interesses coletivos no quintal de casa: NOVOS PREFEITOS.
Sugestão de trilha sonora: Vilarejo
Artista: Marisa Monte
Álbum Infinito Particular
Ano: 2006
Aqui embaixo há o mundo real de todos os dias, e nele a esperança e a utopia e desejos.
“Vilarejo” narra o contraste entre a vida real e a vida com arquitetura e engenharia de esperanças.
Contraste entre a Política formal da vaidade autoritária e o outro lugar, lá para onde o paraíso se mudou, longe, amanhã, depois de amanhã, talvez no dia seguinte.
- Créditos foto: https://silviapatriciabalaguer.tumblr.com/post/156276443124
- Créditos audiovisual: Youtube.