AO VOTAR, NÃO BEBA!
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
No último domingo uma pesquisa do Instituto DataFolha apresentou cenários de intenção de voto para presidência da República já que teremos eleições nacionais em aproximadamente 12 meses. Quadros estatísticos surgem com o ex-Presidente Lula colocado em primeiro lugar em relativa estabilidade. E quando o pré-candidato Lula não compõe o cenário os resultados dos outros pré-candidatos continuam praticamente no mesmo lugar.
Talvez, o que mais impressione sejam os índices de rejeição aos pré-candidatos, sempre superior à intenção de voto. E isto é revelador de um conjunto de indicadores que formam o comportamento político-eleitoral. O panorama político tem desqualificado o contexto eleitoral.
Pelos resultados que nos aparecem não há vencedores; ninguém vence, senão o fato de que apenas aquele que chega em primeiro lugar deixa de perder. Tal qual o presidente atual, embora seja parte do grupo que eleitoralmente venceu as eleições de 2014, não tem legitimidade política para representar os interesses da população.
Não há o mínimo de confiabilidade política para que os candidatos, dos atuais cenários eleitorais, sejam considerados com força política ou legitimidade política. Nenhum eleitor colocaria suas mãos no fogo para defender um candidato como o símbolo de esperança de que o futuro seria melhor. Isto porque nenhum dos indicados na pesquisa pode se considerar candidato com capital político adequado para concorrer. Sempre que o conjunto de rejeição é superior ao de intenção de votos podemos pelo menos desconfiar que a seleção de candidatos pelo eleitor se faz por negação aos outros, e não pelas virtudes daquele em que intenciona votar. No limite nenhum deles contém confiabilidade necessária para se tornar um líder político, com legitimidade de discutir os rumos a serem tomados pelo país.
Não há líder político que seja capaz de afrontar os casos de “mexe-mexe” eleitoral e político (reformas), que rolando para todos os lados ficou no mesmo lugar. Nem mesmo a condição de reeleição foi modificada. Apenas projetos de interesse direto dos deputados, senadores e políticos de forma geral, foram votados como se fossem reformas. É importante não esquecer que a campanha eleitoral tem financiamento público por vários caminhos: fundo partidário (aumentado aos céus nos últimos anos), recursos para viagens ao “reduto eleitoral” (inclusive em períodos não eleitorais), emendas parlamentares (ação executiva de representantes do legislativo) etc. e tal.
Do lado de cá, a pesquisa impõe como resultado o simplismo do voto por se ter que votar, como um ato longe da cidadania política. Como se não houvesse alternativa, o voto aparece mais como uma obrigação do que como um comportamento político que tivesse um pouquinho só de reflexão.
A despeito da proclamação da importância do eleitor (sem cidadania), voto, para nós, é como uma garrafa de cerveja, de qualidade duvidosa e quente! Pior do que está pode ficar. Ressaca das brabas!