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APENAS UM FERIADÃO... VIVA!!

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Nada melhor do que um feriado ampliado para poder perceber que a vida tem muitos rumos e contornos. Poder descansar, sair da rotina, não ser substrato do tempo e olhar o horizonte sem compromisso.

Mas o que justificaria este tempo de descanso e ócio? O nascimento da República Brasileira, um rebento nascido de contrações de lutas e revoluções em muitos países de democracia moderna e madura. Das formas de Estado a República coloca o cidadão a decidir seus governantes por meio de processos eleitorais, se contrapondo a hereditariedade da Monarquia [forma de Estado constante no período feudal]. Prevalece a coisa pública, o interesse comum, numa organização do poder capaz de distribuir parte do poder político entre os governados. O canal de poder republicano faz nascer o eleitor e a soberania popular que, de tempos em tempos, reposiciona os governantes sem necessidade de rupturas revolucionários ou atentados de tomadas do Estado.

Como ascensão da soberania popular, como fundamentos da república urgem as liberdades econômicas [especialmente o liberalismo econômico representado pelo empreendedor dinâmico]; a liberdade de imprensa e de pensamento; a liberdade de ensino e de associação [em seus vários frascos perfumados de liberdade individual].

A República Brasileira inicia sua fundação com os filhos de fazendeiros [aristocratas agrários convergentes ao Império dos Pedros] que se deslumbravam com a experiência da cultura política europeia e americana quando foram estudar nos países desenvolvidos. Inglaterra, França, EUA foram marcos importantes para que os filhos rompessem valores culturais, sociais e políticos com seus pais. Inconfidentes e Revoltosos contra a escravatura [a favor do trabalho livre], contra a Monarquia [a favor da descentralização], e contra os privilégios nascem as condições necessárias ao rebento republicano.

Aos poucos, sensibilizados pelos ideais republicanos, parte dos fazendeiros de tendências urbanas [paulistas e mineiros, especialmente] que fora do sistema cooptativo das ingerências centralizadas, aderem às utopias políticas de além-mar. Nascida do envelhecimento imperial, a República fala em nome do povo sem incorporá-lo, posto que ainda não havia se solidificado a sociedade de classes, de direitos, de democracia. A República é um berço idealizado, que faz surgir a política dos Estados ou dos Governadores [“Café com Leite”] contra o centralismo real. A Monarquia, incapaz de aceitar sua derrocada e vagarosa em suas vestes mortuárias, já não é mais do que um zumbi político.

Com a República comemorada por seu nascimento, postada na descentralização administrativa do Aparelho de Estado e na Federação Política das Unidades da Federação, vivaz e “em berço esplendido” ainda não tinha forjado no calor dos fornos seu caráter. Sempre desejosa dos ideais e utopias versantes na soberania popular, não foi capaz, como na Proclamação da Independência, de criar o povo e a soberania popular.

Apenas em momentos críticos, foi capaz o povo de nascer, imaturo, na República com vícios concretos de patrimonialismos [público e coletivo como privado e pessoal]. Em contrações agudas contra ditaduras veladas ou indiscretas, mas nunca em nome da construção de valores democráticos, a nossa cultura política republicana não fez nascer o povo democrático, mas o combativo.

A última versão republicana foi a recente Política de Enfrentamento assumida pelo eleitor que dispensou dos assentos de privilégios com contornos aristocráticos muitos representantes da Velha Política que ainda vaga por aí como zumbis. As últimas eleições não deram as prerrogativas de caráter aos governantes eleitos. Esta dimensão ainda figura no horizonte como o foram os ideais republicanos. O que está a nascer é o povo e, talvez, a soberania popular [sempre uma utopia necessária]. A Fadiga Política, por cansaço, é a bacia onde estão os valores que estimulam os novos tempos. Tempos que ainda serão feitos.

Não há vitória aos eleitos. Os governantes novos ganharam a eleição, mas não venceram a política dos novos tempos. É essa História Política que vale um feriadão.



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