BRASIL: UM ADOLESCENTE POLÍTICO
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
O Governo que ora se instala no Estado Brasileiro terá sua marca de adolescência como sua principal imagem. Pouco preocupado com o “efeito Lego” de suas contraditas defasagens de comunicação extraoficial, cuja característica é formada por um conjunto desconexo de “construções pessoais” num processo de monta e desmonta sem forma, ergue-se hasteado olhando para o passado.
As peças do presente não precisam se encaixar porque o formato final é superar um passado que ainda resiste em muitos modos operacionais e estruturais. Entre eles estão as permanentes lutas entre “não-petistas” e “petistas” que doam sangue ao batimento cardíaco governamental: as redes sociais ainda suspiraram e transpiram a overdose do antagonismo maniqueísta do bem e do mal. Também ressurgem a todo o tempo as lutas por um mito “Lula”, cujas espadas são lançadas em nome de liberdade, perseguição política pessoal, desconsideração sobre processos jurídicos... Todas fincadas como estacas no passado. Acumula-se, mais recentemente, a prisão provisória do ex-presidente Michel Temer e correligionários, cujo apadrinhamento é rejeitado pelo “bem” e pelo “mal”. Correlato a tudo isso se estabelece a figura da Reforma Previdenciária como salvaguarda do futuro econômico e social do país [veja-se o “nervosismo” e “angústias” dos índices da Bolsa de São Paulo ou as ameaças sobre as condições de pagamento de aposentarias].
Um pouco de chantagem política daqui e dali e o aproveitamento das circunstâncias políticas e jurídicas atuais, sendo a prisão de ex-Presidentes fixadas na linha do Patrimonialismo que marca nossa cultura política com escândalos de corrupção incomensuráveis, o Governo atual continuará adolescente. Viverá marcando sua diferença com o passado e precisará tanto do PT e dos petistas quanto o PT e os petistas necessitaram das “Elites Capitalistas” para montar seus discursos.
Este processo de transição ainda enfrenta a resistência conservadora do Congresso Nacional [tanto Câmara dos Deputados como do Senado Federal] que, a despeito de discurso de renovação ainda preserva suas benesses e privilégios de comissionados e custos elevadíssimos de manutenção de pessoal e benefícios. São dependentes de “narcóticos políticos” do patrimonialismo – torna privado e pessoal o que é público e coletivo. E o “ser patrimonialista” não é de esquerda ou de direita: é um patrimonialista.
E isso é simbolizado no comportamento e posicionamento do Presidente da Câmara dos Deputados que, ainda que queira apresentar “cara de bom moço”, deseja querer ser o negociador de “votos na Câmara” e “cargos no Governo”, por pressão ou conciliação. Pelo lado do Governo Federal, apesar dos coadjuvantes Lego, caberá resistir ao Patrimonialismo como elemento-força de sua existência política. Não há uma luta ideológica da “direita” contra a “esquerda”, até porque ainda não somos nem mesmos liberais, apenas patrimonialistas [quando o eleito se torna o dono do poder, o vaidoso rei].
É uma luta de amadurecimento político, cultural e estrutural, que ainda não consegue perceber as responsabilidades necessárias que são contrárias aos desejos imediatos: os privilégios. Os gritos pela manutenção dos desejos e “benefícios” daqueles todos que se mantêm com uma quantidade de funcionários que poucas empresas poderiam manter são contrários ao amadurecimento forçado pela própria existência estrutural.
Mas é certo que nem toda a adolescência desemboca em amadurecimento social, cultural e político. O processo político, em seu dia a dia, ainda enfrentará seus medos, seus fantasmas, seus próprios horrores existenciais. A superação dessa adolescência política estará estabelecida pela forma de perceber os problemas e pelas formas de enfrentar os problemas e, talvez, superá-los. O Brasil é ainda muito jovem para tentar atuar como adulto bem-resolvido. É um “ser” em transição, ainda adolescente. Cheio de incertezas a se perguntar a todo instante: “Será que é tudo isso em vão?”
Sugestão de trilha sonora:
Artista: Legião Urbana
Álbum: Legião Urbana
Data de lançamento: 1985
Gênero: Rock
Créditos imagem e vídeo: Google imagens // youtube