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CALVÁRIO, MARTÍRIO E DEMOCRACIA

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

A Constituição Brasileira de 1988 foi proclamada diante de um contexto de luta contra o autoritarismo de Estado, contra a autocracia de governantes, contra os censuradores de pensamentos e expressões. Tudo isso – esperávamos – deveria resultar em Democracia forte e Liberdade plena. Mas, não basta destituir instituições e valores; é necessário conduzir a construção do que se pode colocar em seu lugar. Para tanto, é preciso compreender o que nos rodeia.

Os desejos nascidos das palavras constitucionais, como gritos do Ipiranga, não se converteram, por magia ortográfica, em cidadania extasiante, nem em sustentabilidade ambiental, muito menos em liberdade democrática. Os pergaminhos instruem, e somente podem instruir, os caminhos a serem seguidos, mas não se transformam na caminhada. É a cultura política, os valores sociais, as trajetórias históricas que podem juntar desejos e realidades. O Rei tem muito mais a fazer do que sua própria vontade.

A elevação pretendida da política nacional, o calvário [local alto do crânio onde ocorre a calvície, colina onde Jesus Cristo foi crucificado], se coloca agora como uma promessa malsucedida, cheia de buracos e desafios prontos para nos fazer bradar a Independência de nossa Democracia frente a ditadura de todos os dias. Todo o martírio que já foi suportado e todo sofrimento angustiante, necessariamente nos servirá de referência para os dias que se seguirão.

Pelos vícios adquiridos em nossa história política temos diante de nós, dia após dia, erupções de autoritarismos desavergonhados, lastros de ditadura, virulências inquisicionais da vaidade política. Os donos do poder de decisões institucionais, fruto de nossa história versada no Patrimonialismo, têm dificuldades de firmar comportamentos impessoais, coletivos e públicos.

A Democracia, que tolera – e tem que tolerar – toda e quaisquer decisões pessoais, organiza-se no Estado de Direito [talvez também democrático] para que toda a supressão de seus fundamentos seja responsabilizada com leis. Leis que funcionam não como palavras, mas como valor de referência ao comportamento. O “Espírito das Leis” é o “sentimento” que conduz as práticas. E isso, em seu conjunto, forma a história de uma sociedade.

 A Democracia tem as instituições como pilares que fundam sua edificação. E toda e qualquer instituição deve ser superior ou o calvário frente a todo e qualquer indivíduo, especialmente aqueles que estão em seu comando ou direção. Estes indivíduos “especiais” devem estar no fim da fila dos desejos para que não confundam preferências pessoais com poder institucional. E “fazer uso pessoal” de uma instituição que deve transformar ortografias constitucionais em valores políticos para a sociedade é uma tempestade com trovões e raios do mais escandaloso autoritarismo.

Liberdade plena com Responsabilização plena. Censura Não!

 

Sugestão de trilha sonora: 

 

""Cada dia eu levo um tiro
Que sai pela culatra
(Eu não sou ministro, eu não sou magnata)""

 

 

Zé Ninguém 

Artista: Biquini Cavadão

Álbum: Descivilização

Ano de Lançamento:1991

 

Composta no ínício da década de 1990 essa música permanece atual. O contexto histórico em que a música foi escrita é a do início da última década do século XX, onde o Brasil vivia a expectativa da consolidação definitiva da democracia em nosso país, com a aprovação da Constituição de 1988 ". A constituição cidadã" como designou Ulysses Guimarães.  [Fonte: mestresdahistoaria.blogspot.com] 

Crédito da imagem e vídeo: metropoles.com    //   Youtube



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