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DEMÊNCIA, PODER E SENSO DE FUTURO

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

Por haver danos na comunicação entre as pessoas ou quando cada indivíduo de uma sociedade não consegue se comunicar normalmente, pensamento, sentimento, comportamento, ações são imediatamente afetados. A Demência se instala como uma patologia social e política. Demência é uma manifestação de danos causados às células cerebrais e que cria obstáculos severos de interação entre elas. Os neurônios não conseguem “falar” normalmente uns com os outros. Daí para frente há um conjunto de desatinos.

A Demência Social e Política consiste na discrepância ou enfraquecimento progressivo das atividades cognitivas [memória, raciocínio, comunicação, interações sociais]. Essa degenerescência apresenta seus sintomas depois de longo tempo de disfunções sociais e políticas, fraturas nos sentidos da Democracia e exorcismos contra o Espírito Republicano, como o cultivo do ruim em nome de benefícios imediatos.

A expressão da Demência irradia, primeiro, a desconfiança. As “coisas” são expostas de súbito, sem sentido lógico, sem amparo na realidade convencionada [que nos convence], em contradição com posicionamentos recentes. O Hipocampo [área de aprendizagem e memória] dá os primeiros sinais dos danos. O que se disse em pouco tempo é “evaporado” na próxima conduta. Desalinhos.

As células cerebrais, pelo mal uso do corpo do Estado e dos Governos, provoca atrofias entre os neurônios, cada um tentando se apoderar do que se lhe aparece, como oportunidades aos oportunistas, como o apressado que se atropela, como o vaidoso que se declara amor eterno, como o desorganizado que tropeça nos próprios braços. A Demência Política se revela em atos políticos surrealistas. O Surrealismo Político significa o desprezo pelo sistema lógico de reflexões pela elevação do inconsciente e do irracional, dos sonhos hiperbólicos e dos estados mórbidos [André Breton].

As Teorias da Conspiração, antes um problema insuportável nos concorrentes, por repente, vira aliada incondicional para suspeitar de trabalhos executados com técnicas experimentadas e controles de investigação rigorosos. O desvendar de planos de sequestros e assassinatos mirados em autoridades e seus familiares seria um devaneio, uma provocação, um toque de malícia política, uma invenção.

Outra expressão da Demência Política é designar diferenças físicas entre homens e mulheres para propor desigualdades sociais e políticas. É um desarranjo versado em impulsos intestinais involuntários. Para se referendar a Democracia de Gênero, não poderá ser o útero o símbolo da força feminina. Não será do útero [matriz da fertilidade e da maternidade] que nascerá a força política e social das mulheres. Não é o útero, mas a Política que traz as mulheres à luz da Vida pela Luta por Igualdade.

A liquidez da Política e do Mundo Social está em se proteger dos encantos do poder alucinógeno, das incursões dos etílicos, da satisfação vaporosa da nicotina. Proteger, diferente da inanição e do ostracismo, requer agir em nome de missões em planos de prudência, de tabuleiros de enxadristas, de alimentos políticos que performam saúde social.

A mudança se faz aos poucos, pelo convencimento do corpo social de que, após tempos longos de abusos e noites mal dormidas, cansaços e ressacas hepáticas, a Cidade-Estado possa ser expressa em equilíbrios de maturidade política e autocontrole social. A transição requer cuidados e mudança sobre o senso de futuro. A Política, ainda que seja imortal, requer ressurreição.


Sugestão de Trilha Sonora: A REVOLTA DOS DÂNDIS I

Artista: ENGENHEIROS DO HAVAI

Autor: HUMBERTO GESSINGER

Álbum: A REVOLTA DOS DÂNDIS

Ano de Lançamento: 1987

Crédito de Imagem: PINTEREST



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