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DEMOCRACIA, INSTITUIÇÕES E INDIVÍDUOS

 

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

É inevitável que, para vivermos em sociedade, para estarmos na necessária relação com os outros, a mediação se estabeleça por valores e estruturas sociais que sirvam da mesma forma para os indivíduos. Na medida em que as pessoas possam aceitar esta mediação e que a admitam como um valor social, as inter-ações passam a acontecer. São as instituições que conciliam as possibilidades de alguém se preparar para a existência do outro como um elemento de conjunto e não como um arremedo de guerra natural. Antes disso, o mundo só poderia ser fundamentado na guerra de todos contra todos; cada um com sua razão para a vida e sem poder confiar nos outros.

Para as Instituições existirem é pressuposto que possamos abrir mão de nossa liberdade natural e dos desejos individuais. Já na primeira socialização impõem-se às crianças os modelos de vida e as formas de comportamento requeridos em uma sociedade: o tempo para se fazer as coisas, as formas de realização, as condutas de respeito, as preliminares das expressões emocionais e muitos nãos durante toda a internalização dos valores e condutas recomendáveis. Somente ao se aceitar esses processos é que alguém pode ingressar no convívio social permanente.

Das roupas utilizadas para cada evento de vida social [sejam no espaço público, governamental, privado], das formas requeridas de se falar [como nos templos religiosos, em festas familiares, em locais de trabalho], da aceitação de hierarquias políticas e sociais [sistemas de liderança, co-mando e subordinação] e em todas as esferas da existência social, são das estruturas de intermediação social que nascem as interações em sociedade. E tudo passa a ser classificado em valores sociais. São as Instituições Sociais que fazem nascer uma sociedade: sempre superiores aos indivíduos e às suas vontades e limitadora de seus instintos mais primitivos.

Os integrantes de uma sociedade que não conseguem aderir aos valores e referências sociais, que sempre são abstratos [não se pega com as mãos, não podem ser medidos em metros ou quilos], são permanentemente apontados como membros de comportamentos desviantes [em relação ao eixo social necessário]. Sem a aceitação dos valores sociais em contraposição aos desejos individuais, os membros passam por sofrimentos pessoais relativos a integração ampla na sociedade.

As Instituições são inescapáveis à vida em sociedade. É por isso que podemos dizer que as “posições sociais” exigem determinada postura e comportamento; que os postos sociais sempre antecedem os desejos individuais com a “liturgia dos cargos”; que os indivíduos estão aptos a aceitarem a carga de exigência imposta a cada um pelas instituições... Essa aceitação produtiva [gerada em docilidade social e produtividade econômica] é a forma de existência também das possibilidades democráticas.

A Democracia, como instituição político-social, é um arranjo para impor a cada membro as formas de expressar seus direitos estruturados em leis e tradição, e um limitador das imponentes vontades pessoais sedentas pelo poder de impor e ser bajulado pelos que se beneficiam de suas “sobras”, tal qual os nobres que rodeiam o rei. A Democracia, sempre em estado de se fazer, é o que impede a ditadura e a opressão frente à participação e à liberdade social; é a Instituição limitadora do ego diante do coletivo. E como substantivo de organização política, a Democracia é, ao mesmo tempo, a flagrante denúncia da opressão e dos que não a admitem.

A Democracia, colocada em xeque pelos detentores do poder governamental que ajustam as riquezas coletivas como bens pessoais [Patrimonialismo], está a merecer um afago e apelos de necessidades para que não enfraqueça suas energias e nem sucumba ao delírio de vontades pessoais. Não é você como indivíduo que deve ser defendido, mas os meios de construir as relações entre os indivíduos que merecem nossa atenção, especialmente aquelas nomeadas como democráticas.

 

 

 

Sugestão de trilha sonora: Andrea Doria

 

[A personagem sobre a qual desliza a canção bem que poderia ser a Democracia]

 

Artista: Legião Urbana

Álbum: Dois

Data de lançamento: 1986

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=5TE-2tjbiA4

 

 

Em 1956, o Andrea Doria, um dos maiores transatlânticos da história, afundou após se chocar com um navio sueco e matou 50 passageiros. O transatlântico italiano tinha 197 metros e, em meio a um forte nevoeiro, bateu quando ia de Gênova para Nova Iorque. Nova Iorque parecia ser o destino trágico de transatlânticos, pois quarenta anos antes Titanic também afundara indo para lá. A música de hoje é "Andrea Doria", da Legião Urbana. Em entrevista, Renato Russo explicou que a música fala dos sonhos e planos da juventude, que esbarram na hipocrisia, na mentira, no consumismo, no capitalismo e, por isso, naufragam. 

 

 

 

(Fonte: Rádio Câmara Página Inicial / Comunicação / Rádio Câmara / A Música do Dia / Legião Urbana relembra o naufrágio do Andrea Doria)

 

 

Crédito da imagem e audiovisual: Google imagens / youtube



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