ELEITOR, VIDA DE GADO
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
Estamos experimentando este período eleitoral como se vivêssemos uma catarse, quando o velho já morreu e o novo ainda não nasceu. Um intervalo de tempo sem orientação, sem esperanças, sem corda para se segurar. O comportamento eleitoral parece estar voltado a consagrar candidatos que são contrários aos sintomas das crises todas nas quais estamos afundados [crise política, de ética na gestão pública e privada, crise de representação governamental do executivo e do legislativo, desencanto com as promessas já tantas vezes prometidas].
As escolhas que se nos colocaram [propriamente os partidos políticos em suas convenções] com raras espetaculares exceções que se possa encontrar, fixam os debates sobre o nosso passado recente. Não há nenhum programa de governo ou parlamentar razoavelmente construído; ninguém toca em questões de Reforma de Estado, Reforma Política, Diminuição relevante e significativa do quadro de funcionários “pendurados” [ou de confiança do eleito e não do eleitor], da condição de avaliação dos eleitos, das necessidades de consultas públicas que possam definir rumos e opções do processo de gestão.
É preciso, urgente, mais do que necessário realizarmos uma Reforma de Estado. Precisamos refazer as estruturas que organizam as formas e as dinâmicas de realização da política e de renovação da democracia. Precisamos eleger um novo tempo porque até o momento o voto não nos torna cidadãos. Continuamos a contar as sobras sociais em serviços básicos para a nossa vida, permanecemos lutando com suor no rosto, e buscando a felicidade longe da política como se ali estivéssemos condenados pelos maus desejos.
Infelizmente não conseguiremos avançar de modo importante às nossas vidas se as condições de efetivação da política permanecerem a nos cercar como gado num amplo território. Uma política que não se torna a possibilidade de superação dos seus próprios entraves e de promoção do desenvolvimento social, coletivo e individual.
O atual arranjo institucional faz com que pelo voto, deleguemos não uma fundamental representação de interesses coletivos. Hoje o voto significa a entrega de um mundo capaz de transformar as coisas, de modificar os rumos, de pavimentar os nossos dias que ainda virão. Dia após dia que quando chegam não nos permitem ingressar nas transformações necessárias e nas mudanças já atrasadas.
Somos um povo marcado pela história do patrimonialismo, cuja forma essencial de existência é tomar como privado o que é público, e tornar pessoal o que é coletivo. Uma forma de nos roubarem a política e designarem o voto como mecanismo de legitimação eleitoral e, ao mesmo tempo, de distanciamento político.
Momentos difíceis ofertam decisões corajosas e intensas. E é um convite para conhecer nossa trajetória política, nossos valores sociais, nossa cultura política, nossa identidade como cidadão e a história de nossa trajetória que diz o que somos e como chegamos até aqui.
Vem aí as AULESTRAS EXITUS! Aguarde!
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