EM NOME DE QUE?
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
Em tudo que acontece nas práticas políticas nacionais, por um governo sem trilha musical e sem dança coreografada e pelo Congresso Nacional com falta de orientação própria como um cão que corre atrás de seu próprio rabo, o desencanto com a política toma rumos de contração.
Não se discute o conteúdo das reformas já em tempos de angústias num processo cambaleante de um corpo com câimbras; nem se percebe um governo organizado, sempre pisando em buracos cavados pelos seus próprios ministros com posicionamentos “delirantes” dopados pelo poder de acaso; tampouco se constrói uma reserva de argumentos e metas para um desenho do futuro do país.
Estamos motivados pelo medo e pela determinação de conduta perante os riscos de um mundo ruidoso. Somos contra.... Contra o que? Em nome de que?
As justificativas genéricas se perfilam encenando um cabo de guerra contra a “Velha Política”. Cada grupo puxando a corda para pontos aleatórios apenas sabendo que deve vencer o outro, mas sem conhecer o que fará com a vitória – é mais importante a derrota do oponente do que a vitória a ser conquistada. Hoje dias de esforços musculares; amanhã se não tivermos oponentes precisaremos imaginar ameaças e fantasmas para continuarmos.
Enquanto não se define um conteúdo para o Brasil, um conjunto de políticas para se elevar o presente a uma conquista bem pensada e debatida ao futuro, criaremos nossa própria depreciação política. Precisaremos demonizar “espécies” que representem nossa luta, nunca nossa conquista. O elenco de inimigos apenas fomenta a força, mas não os planos.
Exauridos o petismo e os petistas, a reserva para a luta precisará ser refeita. “Desocupados”, “Vagabundos” e “Massas de Manobra” deixarão a formação de Partidos Políticos e Instituições à sombra do Personalismo Político do bem e do mal, da demonização e da salvação, do tudo ou nada.
Eliminada a eleição como elemento causal da Política de Enfrentamento contra um mundo de riscos e ameaças, e escorrido pelos dedos das mãos o tempo de encaixe de um novo governo – tempo que suporta erros, desvios de comportamento e desentendimentos em nome da esperança do novo –, é o momento de apresentar os desenhos do futuro em papel novo, tinta fresca e argumentos de motivação para conquistas que deverão nos conceder nova identidade de Brasil.
As confusões ajudam a criar a falta de rumo, como um corredor que trafega o percurso de costas, sem saber onde vai chegar e observando a sinalização dos caminhos após passá-las. Com todo o seu esforço o corredor percebe apenas se erra e não se acerta o roteiro. Um governo que representa um país inteiro deve pretender-se, em nome do “todos”, pacificador e desafiado a convencer seus oponentes e não a vencê-los. Isso é fundamento da democracia.
Lutemos sempre, incansáveis, indolentes, extasiados.... em nome da democracia e da boa política. Para que não sobre com as mãos trêmulas somente a falta que ficou...
Sugestão de trilha sonora: Os Anjos
Artista: Legião Urbana
Álbum: O Descobrimento do Brasil
Data de lançamento: 1993
Crédito de Imagem e vídeo: Google imagens / cabo de guerra - youtube