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EXPECTATIVA E REALIDADE NA ECONOMIA BRASILEIRA

GUERINI, Eduardo

Mestre em Sociologia Política

 

Ubi bene, ibi pátria [Onde se está bem, aí é a pátria].

Cícero (Século II a.C.)

A conjuntura econômica brasileira é movida por desejos dos seus agentes – sejam eles, empresários e trabalhadores, regulados pelas ações do Estado.  Tais desejos são alicerçados nas expectativas descritas semanalmente pelo relatório Focus, onde agentes do mercado sedimentam as apostas em relação ao futuro, com previsões sobre inflação, taxa de juros, câmbio e previsão do crescimento da economia.

Num cenário de curto e médio prazo, os agentes de mercado constroem seus cenários prospectivos em relação ao longo prazo, partindo de expectativas racionais que são alicerçadas por indicadores de atividade – emprego e desemprego dos fatores produtivos (capital e trabalho), nível de investimento (público e privado), consumo e produção. Tais indicadores são complementados por aspectos subjetivos, como: índice de confiança do consumidor e do empresariado, e segurança que os planos de governo em relação ao mundo econômico serão ajustados às necessidades reais da sociedade.

A “fada da confiança”, a “segurança nos negócios”, as expectativas são ajustadas momento a momento, com a ampla divulgação de indicadores que reforçam ou enfraquecem o nível de otimismo e pessimismo na política econômica que é conduzida por um governo eleito pela maioria. Daí, o encadeamento entre política e economia, que determina a velocidade no crescimento da riqueza gerada que será distribuída para população.

No caso brasileiro, a urgência de pauta reformista indicou o rumo na construção do suposto ideário catalisado pelos representantes da nova política (sic), comprometida com uma agenda liberalizante, com alterações necessárias, as chamadas reformas estruturais, quais sejam: a reforma previdenciária, tributária, trabalhista, e, reforma do Estado. Um dilema atordoa governos e governantes desde a promulgação da Constituição de 1988:  se o Estado desenhado no marco político-institucional pode ser financiado pela sociedade.

Assim, somada a heterogeneidade estrutural, as sucessivas crises políticas, com reflexos sociais, e, uma economia com crescimento débil, alimenta o fantasma da miséria, da desigualdade, da falta de futuro promissor. Uma pauta que se desgasta no cenário interno e externo, dado que os investidores mensuram a capacidade do mercado potencial no curto e médio prazo, concentrando suas atividades em países que potencializem seu rendimento, com confiança e segurança para o futuro do Brasil.

Na atual conjuntura, o governo constrói cenários prospectivos pouco significativos para atração interesseira e interessada dos investidores externos e internos, gerando uma capacidade ociosa com desinvestimento, com desemprego e subocupação em larga escala, queda no rendimento médio dos trabalhadores, consumo deprimido, redução na lucratividade dos principais setores econômicos, e pessimismo que se generaliza na revisão sistemática das expectativas econômicas.

Se governantes desviam sua atenção do essencial no marco econômico, crescimento com geração de emprego e renda, se detendo na agenda moral de costumes, maior é a probabilidade que as expectativas não se traduzam em realidade. Neste caso, vale a máxima na atual situação brasileira, com a dispersão de um pessimismo que se espraia por todas as plagas nacionais: “O diabo quando fica velho, vira sacristão.”



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