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INDEPENDÊNCIA E NAÇÃO

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Aos leitores: não há neste artigo quaisquer juízos de valor com referência à política, apenas esforço analítico sobre os tempos políticos atuais. Compreender é procurar entender.

 

Estamos a comemorar 197 anos de Independência do Brasil. Uma trajetória longa e que ilumina a condição de nossas formas de agir e de nossas referências políticas. Nossa cultura política foi forjada na história por um conjunto de práticas que influenciam nosso pensar, sentir e agir até hoje.

Reivindicado pelo Reino Português em 1500, passamos a maior parte de nossa história como colônia portuguesa na América. É curioso sabermos que o Tratado de Tordesilhas é assinado em 1498. Todavia, como colônia serviu para a extração de riquezas para cobrir os custos da Coroa. O primeiro ciclo de extrativismo foi dedicado ao pau brasil, pau de brasa. Daí surge o brasileiro, aquele encarregado da operação de extração do pau brasil, um não-nobre, pertencente a uma subclasse.

Declarada a Independência, muitas curiosidades aparecem em nosso roteiro. A primeira a ser notada é que a Independência foi tratada em âmbito familiar, com Dom Pedro I declarando a separação entre Colônia e Reino Português sob domínio de seu pai, Dom João VI. Como os envolvidos eram membros da mesma família esse caso torna-se único no período da modernidade. Vem à tona o fato de que a participação da população é relegada ao segundo plano.

Outra curiosidade que marca nossa história é que o Grito de Independência ocorrido à beira do riacho do Ipiranga foi manifestado por Dom Pedro I montado em um jegue, o principal meio de transporte de pessoas e cargas e não em um alazão de guerra e nem com as simbologias napoleônicas retratados em pinturas heroicas. E mais uma vez, a declaração de Independência fora feita com o testemunho de poucas pessoas [seguranças e aristocratas]. Foi um ato sem a participação da população. Não foi a emancipação de uma Nação, uma declaração de soberania ou a criação de um Estado autônomo com a participação conquistadora com a participação de independência, soberania e autonomia popular. Por isso, talvez, não encarnamos [fizemos carne] tanto a Independência.

Um Estado que não conseguiu formar uma Nação e que não carrega o pertencimento de Independência como fervor pessoal. E isso fica relativizado quando as pessoas expõem suas descendências de origem europeia – somos italianos, alemães, espanhóis, portugueses... Não reivindicamos nossa origem brasileira.

Também quando acionamos o patriotismo pela participação em eventos como eleições que simbolizam a “festa da democracia” [eleições que têm data e hora para acabar] ou quando festejamos a pátria pela comemoração de independência, no dia seguinte esquecemos de nosso patriotismo, de nossa cidadania e de nossa democracia tão necessários.

É importante e fundamental compreendermos e comemorarmos nossa história e entendermos nossa trajetória para, então, com segurança e honestidade histórica, reivindicarmos nosso futuro. Vamos comemorar nosso passado e compreender quem somos para conquistar o que tem por vir.

O amanhã não poderá ser construído no vazio de nossa caminhada feita ontem. O que seremos amanhã dependerá profundamente de como nos entendemos sobre como fomos ontem.

 

A EXITUS COMUNICAÇÃO & PESQUISA terá uma novidade em breve. O Professor EDUARDO GUERINI se tornou o mais novo integrante da EXITUS e passará a publicar seus artigos sobre Economia Política, Democracia e Estado nas quintas-feiras. Passaremos a ampliar nossas atividades de pesquisa e assessoria com a reconhecida competência do Professor EDUARDO GUERINI. Aguardem!!

 

Crédito de Imagem: google



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