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LIBERDADE INDIVIDUAL E LIBERDADE SOCIAL

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Desde que a filosofia passou a integrar nossa forma de viver e de pensar a vida que passamos a tratar sobre a forma e o conteúdo relativos à nossa maneira de viver. A iniciativa principal da filosofia foi perguntar a si mesma sobre como firmamos nosso padrão de vida: o contrato social que “assinamos” para viver em grupos humanos baseados em regras sociais.

E o processo civilizatório implica, em todos os casos, em se trocar a liberdade genuína que se tem quando nascemos pela proteção da vida em grupo. Se você deseja ingressar na sociedade civil tem a necessidade de abrir mão de sua liberdade original. Daí nascem as instituições sociais e políticas para lhe proteger das “guerras” e “conflitos” e, ao mesmo tempo, lhe dominar por imposição de regras e valores que servem para regular e orientar o comportamento de seus membros.

Todos os senhores medievais protegiam seus membros e, em troca, esses lhes serviam por obediência. O modelo que nasce na civilização moderna (ou sociedade civil moderna) usa das mesmas condições. Eis porque a justiça (como valor moral de “sermos justos”) e o direito (como processo real para se alcançar a justiça) se tornaram tão importantes em nossas vidas como instituições reguladoras do que podemos fazer em sociedade.

Assim, quanto mais fortes as instituições de proteção dos indivíduos, menores são os graus de liberdade desses mesmos indivíduos.  Os indivíduos estão mais protegidos quando boa parte de suas vidas tem um “cardápio” para que cada qual possa fazer suas opções. Lembremos sempre que o cardápio institucional solicita apenas e tão somente suas decisões pelas opções estabelecidas dentro de modelos institucionais. Suas opções estão limitadas pelos modelos sociais, e você não pode fazer livremente sua própria receita para viver em sociedade.

Nos últimos tempos temos presenciado uma movimentação segundo a qual o indivíduo poderia (e mesmo deveria) escolher por “seus próprios modelos”, por consequência do “EU GOSTO”, “EU QUERO” ou “EU PRECISO”. A liberdade exigida é próxima da liberdade infantil: “a liberdade genuína” própria das crianças. Todas as crianças são integradas aos seus grupos sociais por uma quantidade enorme de “nãos”, os quais representam a troca da liberdade pela proteção social. Uma troca do egoísmo original pelos valores institucionais da família – a primeira educadora social. Se o processo de conversão do egoísmo infantil por valores sociais não for relativamente bem-sucedido, então o membro que não assume as regras sociais terá muitas dificuldades de bons convívios grupais.

Recentemente, o mais simbólico dos casos tem se apresentado pela liberdade genuína de escolha de gênero (masculino, feminino e todas as combinações possíveis). Luta-se por se ceder a legitimidade ao indivíduo e, ao mesmo tempo, toda a proteção para sua liberdade genuína, e ele mesmo consagra-se como sua própria instituição ou uma certa garantia de liberdade ampla.

Há aí um grande problema: se você quer ser genuinamente livre, e fazer o que “bem entender”, então não poderia viver em grupos de base institucional. Ser livre implica em carregar consigo todas as circunstâncias de sua própria vida, o que não é possível ser realizado em grupos sociais e quase insuportável ao indivíduo. Ser livre para se fazer escolhas perante um “menu institucional” é praticamente o oposto de ser livre para elaborar seus próprios modelos de vida sem se curvar ao grupo social. É inevitável que para todos aqueles que vivem em sociedade se assumam regras comuns, coletivas e convergentes de convivência. Para os que ingressam em grupos sociais e se beneficiam de seus resultados, terão como contrapartida a limitação de seus egos.

Genuinamente, cada um nasce livre, mas na medida que compartilha um idioma passa a assumir suas formas de classificar o mundo de acordo suas correspondências valorativas. Cada um que ingressa em grupos sociais passa a viver naquela (e daquela) cultura, e aplica como sua as formas de viver, sentir e pensar daquela sociedade. Simplesmente cada um nasce com sua constituição biológica que implica na definição de sexo, por exemplo (e essa não é uma escolha). Quanto à definição de gênero, cada um constituirá sua definição de acordo com valores sociais, os quais serão colocados pelos membros familiares (estrutura de parentesco) e os mais concretamente próximos como valores e regras (formas de vestir, falar e até mesmo de desejar).

As escolhas de gênero serão efetivadas dentro de valores culturais e regras sociais. E isso também é inevitável. Mas quanto mais pudermos compartilhar e assegurar que as escolhas possam ser coletivamente defendidas, mais valores institucionais colocaremos como proteção das opções de gênero. Porém, quanto mais individualizada, maior a carga que o indivíduo vai levar em sua trajetória social. Escolhas com a proteção da sociedade serão mais facilmente assumidas. Aparentemente, ninguém quer ser livre porque levar toda a sua vida sem a proteção das regras sociais e modelos de vida institucionalizados. E exige que cada indivíduo livre faça o seu próprio modelo de vida independente dos outros, na base do “EU”.

 

 

 

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Um parlamentar alemão ridicularizou um projeto de lei que pretendia reconhecer “distintos tipos de gênero” em seu pronunciamento no parlamento de Brandenburgo. Steffen Königer, do partido Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla alemã), começou a tradicional saudação no início do discurso dizendo: “Caro senhor presidente da câmara, senhoras e senhores, caros homossexuais, caras lésbicas, caros andróginos, caros bigêneros” e não parou até enunciar dezenas de “identidades de gênero”, em uma saudação que levou mais de dois minutos. Ao terminar a saudação, Königer disse apenas: “A AfD rejeita a sua proposta. Obrigado”, e se dirigiu ao seu assento. A proposta foi apresentada pelo Partido Verde alemão. Königer disse ao jornal Junge Freiheit que sua intenção era ilustrar qual seria o resultado de aceitar tamanha diversidade de gêneros. “Poderia ter lido cem ou mais, mas teria sido entediante”, afirmou ele, que citou cerca de sessenta gêneros reconhecidos atualmente na tribuna. O parlamentar disse ter usado a lista de gêneros que o Facebook oferece para que o usuário preencha o seu perfil.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte do vídeo:  You tube

Crédito da imagem: Google

 



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