LIMITES DA POLÍTICA, DESEJOS DE DEMOCRACIA
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
Posso discordar de tudo o que você disser, mas farei todos os esforços para garantir que você possa defender seus pontos de vista. O atentado sofrido pelo candidato Jair Bolsonaro ocorrido na quinta-feira [06/09/18] revela muito sobre o roteiro político que percorremos. O atentado é um enorme alerta sobre as condições do andar da política brasileira.
A Democracia é o único campo político possível para colocarmos frente a frente pessoas que discordam sobre o mesmo fato. Todos as outras formas de relações políticas são autoritárias e empurram sobre o opositor a mais grave das ofensas: o amargo medo da perseguição e da possibilidade de sofrer violência física.
A intolerância só poderá ser manifestada pelos que têm em si a verdade sobre os fatos e o mundo, acrescido da impossibilidade de receber divergências. O atentado que se sofre, em todos estes casos, é sempre duplo: contra a pessoa e contra a democracia. Sangra, dolorosamente, a política; sofre uma cirurgia de risco, a democracia. E cala-se a voz geradora de crítica.
São fatos recentes de intolerância, revoltas contra venezuelanos no estado do Acre; são ocorrências de violência ao se partir para o maniqueísmo de “bem” e “mal”, “nós” contra “eles” quando pessoas públicas dizem que “receberiam à bala” os divergentes. Tudo isso é muito grave.
O ambiente no qual ocorre a radicalização e o contexto que promove ameaças às pessoas pelos mais variados motivos, são elementos da ausência de regulação das atitudes das pessoas pelas instituições. Essas instituições que deveriam dirigir nossas vontades e controlar nossos instintos mais egoístas estão em grande fragilidade.
Há tempos as religiões não conseguem mais fazer a regulação moral para a formação dos indivíduos; as famílias se modificaram em sua constituição e deixaram de promover as condutas dos “nãos” que educam e ensinam a enfrentar as frustrações e desencantos; as escolas e os professores [por testemunho pessoal] já não atraem respeito institucional como outrora.
Não é saudosismo, é um confronto com as novas condições de vida. Não nos referimos à melancólica vida “melhor anterior”, mas aos aspectos sociais nos quais nos encontramos de liberdade individual [“a vida é minha”] e suas correlações com as “responsabilidades sociais”.
Nossa democracia chora no berço e não sabe cuidar de si mesma. É hora de crescer e seguir um caminho seguro para enfrentar as dificuldades e os obstáculos. E se alimentar pelas críticas, porque os elogios vendam os olhos, entorpecem o pensamento e deturpam a realidade. A crítica recebida é nossa amiga, nos ensina e nos aperfeiçoa. A democracia é irmã, mãe e filha da crítica
Nossa Democracia, que surgiu torta e sem povo, fraca e faminta, só poderá ser revigorada quando se enxergar no espelho, ver a si mesma e reconhecer seus desajustes. Essa tarefa é nossa!
Vem aí as AULESTRAS EXITUS! Aguarde!
A música Alagados, de 1986, dos Paralamas do Sucesso, retrata a situação atual da política em um dos trechos.
""Na segunda estrofe, para fixar a insensibilidade das autoridades, o Herbert usou uma imagem forte: a figura do Cristo de braços abertos, tão explorada pelos governantes do Rio de Janeiro como um símbolo de acolhimento, na verdade é uma falácia, pois a triste realidade daquelas pessoas mostra que a cidade (a sociedade) além de não acolhê-las, abandonou-as à própria sorte.
Então, onde está escrito “A esperança não vem do mar, VEM das antenas de TV” (dando a entender que as pessoas se iludem através das imagens da TV), na verdade, o texto correto é: “A esperança não vem do mar, NEM das antenas de TV” (garantindo que a resolução daqueles problemas não virá por essas opções) o que, obviamente, muda totalmente o sentido de análise.
Assim, percebemos que ele usa o refrão para, além da crítica social, também fazer um alerta àquelas pessoas: se elas quiserem realmente que a justiça social lhes seja feita elas têm que ir à luta, pois a esperança de justiça tão esperada não virá daquele mar à sua frente, muito menos virá por intermédio das antenas de TV""
Fonte: http://dayanebrant-almanaquecultural.blogspot.com/2013/08/historia-da-musica-alagados-paralamas.html
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