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MAR REVOLTOSO E NAVEGAÇÃO POLÍTICA

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Aos leitores: não há neste artigo quaisquer juízos de valor com referência à política, apenas esforço analítico sobre os tempos políticos atuais. Compreender é procurar entender.

 

Está presente nos diálogos que acenam às práticas e às orientações políticas algumas afirmações sobre posicionamentos ideológicos de “direita” definidos por oposição à “esquerda”.  Nos dias de hoje parece ser legítimo e vantajoso declarar-se de “direita”, colocando sobre os ombros da “esquerda” todo o sentido do mal. Antes, cabia à direita e às elites os assombros das maldições humanas. O esquema de pensamento é o mesmo, apenas os lugares foram alterados.

Olhando mais de perto o que aparece é que, na maioria das vezes, tudo isso tem pouco a ver com ideologias direita-esquerda. Os que se dizem de “direita”, considerando suas declarações, combinam seus conteúdos ao Conservadorismo. Nada mais que isso!

O Conservadorismo aparece na história política com o surgimento da sociedade moderna, fundamentada no industrialismo e no capitalismo, e representada por classes sociais. O Conservadorismo afirma que, em circunstâncias de ameaças e riscos que podem surgir com mudanças sociais e políticas, são as instituições de caráter moral da sociedade que podem garantir o bem-estar coletivo. Se as coisas da vida política e social estão em momentos de crise, é com a força das estruturas e costumes morais que se faz a estabilidade da sociedade.

No Conservadorismo, a história é um fenômeno estático, como se fosse um organismo vivo ou um corpo humano: para evoluir [o corpo] é preciso Conservar [a estrutura]. Assim, as mudanças são operadas dentro de sistemas estruturais de controle [moral], e não pelo desejo ou vontade humana [outra sociedade]. As transformações não são pensadas como uma alternativa à História, mas ao contrário.

Todo Conservador tem dificuldades em aceitar argumentos científicos e racionalmente debatidos em bases impessoais, contrapondo-os sempre a singularidades factuais ou pessoais. As próprias razões científicas de monitoramento, interpretação e avaliação de fenômenos naturais e sociais são consideradas elementos de aversão.

Mas não há imobilismo! O Conservador orienta suas ações políticas pela imagem de um governo tecnicista em nome do pragmatismo econômico, na maioria das vezes operador de mudanças legitimadas pelo temor de quebra de um sistema [como o previdenciário]. Aqui com o suporte pragmático de fundamentos técnico-científicos.

Embora sejam aceitas mudanças técnico-econômicas, no caso de políticas de desenvolvimento humano e social a orientação é de negação ou repulsa. Aqui os conteúdos e posicionamentos conservadores surgem com todas as forças: educação, cultura, justiça, arte, livros e ciências humanas devem carregar em sim valores morais já experimentados na História, tradicionalmente aceitos e individualmente celebrados.

São os valores morais que devem imprimir o futuro social. Não há necessidade de avançar em argumentos de transformações políticas. A Filosofia Social e as Ciências Sociais podem ser relegadas e considerados como alavanca esquerdista. Afeitos à defesa da liberdade humana e sem a segurança da moralidade fundante do bem, serão pecados mortais. Ainda mais quando o poder político sem limites morais se transformaria sempre em tirania.

Eis a face da necessidade de indicação de um Ministro Terrivelmente Evangélico: seus fundamentos morais! E eis a cara da luta contra a corrupção, eleita como o principal desvio do comportamento humano.

Para os Conservadores, em períodos de riscos, perigos, ameaças e incertezas, o Conservadorismo é como uma âncora de segurança num mar revoltoso: deve-se suportar as dificuldades advindas da tempestade. Não há rupturas morais! Para tantos outros, as ondas elevadas e a forte maré são oportunidades de transformação da visão sobre a embarcação, o mar e a esperança em novas enseadas!

No Brasil não temos Direita-Esquerda. Estes são conceitos cravados em outros continentes carregados de conteúdos incompatíveis com nossas práticas e posicionamentos! Somos, por nossa História e Cultura Políticas, Patrimonialistas [quando o coletivo e público se torna individual e privado].

 

 

Artista: Léo Jaime

Álbum: Grandes Sucessos

Data de lançamento: 1997

Crédito da Imagem: Google Imagens



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