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MERCADO POLÍTICO E SEUS ACIONISTAS

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Depois das eleições presidenciais de 2018, muitos olhares e análises se reportam para os “partidos políticos” e suas fraquezas. Como antídoto, o personalismo político é um demonstrativo cavalar de que os Partidos são, como representantes de interesses e diversidades da sociedade, quase inexpressivos. Por isso a expressão mais aceita em nossos convívios é, mais recentemente, a “Onda Bolsonaro”. O PSL [Partido Social Liberal], como todos os outros, serve como uma simples etiqueta para acesso a formalidades institucionais. Ou ainda, quando um líder muda de partido e um conjunto de séquitos o segue, fica a demonstração de interesses pessoais escancarada, em detrimento de quaisquer motivações ideológicas.

Partidos políticos são tão frágeis e dançam em volta de interesses privados que há inclusive uma “janela” para mudança partidária de caráter oficial. É mais que evidente que não há fidelidade partidária: se você não tem cargo público eletivo ou por indicação privilegiada não terá nenhuma punição. A fidelidade se resume aos benefícios relativos exclusivamente à ocupação de cargo eletivo parlamentar, e não aos preceitos ideológicos políticos ou programáticos partidários. É “para inglês ver”.

Partido Político atualmente é, tijolo por tijolo, um comitê de representação individual ou de pequenos grupos. Os eleitos em suas atividades políticas, ao afirmarem que agem por “sua consciência” se distanciam longamente das legendas nas quais estão inscritos, e da população, eleitores ou não, que deveriam representar. As ações dos eleitos são cada vez mais individuais e privativas de sua consciência.

Na origem dos Partidos Socialistas, durante a segunda metade do século XIX, havia notadamente representação baseada em ideais políticos e sociais, configurada em força ideológica que movia os integrantes. Muito mais do que agir por consciência individual, havia posição de consciência de classes. Pelo diagnóstico de que os trabalhadores eram classes subalternas no capitalismo, procuravam caminhos para que se tornassem classes socialmente emancipadas e politicamente decisivas. A integração social do grupo vertia pela ideologia que, independente do período eleitoral, reforçava a identidade política e os valores sociais para justificar a atividade política e a crença na luta social. O momento eleitoral servia para analisar os efeitos da força partidária e não como um fim em si mesma. Por aqui, tudo isso se desfez, ou talvez nem tenha existido.

Hoje, em nossa cultura política, Partidos Políticos se formam como organizações privadas e de interesses privativos [quase sempre pessoais], girando em torno de necessidades de cúpulas partidárias, das vontades dos dirigentes que se ajustam à economia com recursos públicos pulando de um cargo comissionado aqui para outro logo ali. Serve como uma alavanca para ocupar cargos públicos como troca [independente de competência] pelo esforço que em algum momento foi empreendido por algum associado em torno de um interesse político-eleitoral do próprio partido. Cargo que será mantido com recursos públicos. E assim a “empresa” Partido Político se faz fluir.

Os cargos comissionados têm se revelado como parte da competição eleitoral e não de representação de interesses e valores da sociedade e suas necessidades. Partidos políticos, por definição sociológica, não cumprem suas funções de serem os elementos de canais institucionais de questionamentos políticos da sociedade e, muito menos, se tornaram canais de participação da sociedade na formação das agendas políticas e das decisões políticas.

Em geral, as necessidades de decisões políticas ocorrem em condições críticas. São os limites das crises econômicas de origem política [como o déficit do orçamento público], da crise moral e ética de representação política dos interesses da sociedade frente aos privilégios dos atores políticos líderes de partidos [que votam em seu favor benefícios de todas as ordens praticamente sem limites – auxílio moradia, paletó, de viagens, de alimentação, de aposentarias, educação, saúde...] que movem suas ações. Adicione-se o contraposto moral de se criticar ou defender ardorosamente Reformas Administrativas do Executivo de diminuição do peso do Estado sem olhar para si e observar o custo mensal de um gabinete de deputado estadual, federal ou de um vereador entre os mais elevados do mundo. Tais congressistas que mantém os mais altos custos de manutenção das estruturas parlamentares com comissionados, servidores e um “rebanho” de inauditos que os circulam.

Nossos partidos não são nem programáticos, nem ideológicos: somente personalismos.

 

Sugestão de trilha sonora: SOPA DE LETRINHAS 

Artista: Engenheiros do Hawaii

Álbum: Longe Demais das Capitais

Data de lançamento: 1986

 

 

 

Créditos imagem/vídeo: Google imagens/ you tube.

 

 

 

 

 

 

 



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