NEM FASCISMO, NEM REVOLUÇÃO
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
Durante todo o processo eleitoral, a cisão entre eleitores revelou uma conduta de extrema divergência política, social e até mesmo pessoal. Resultado da baixa maturidade da democracia brasileira, ainda em amparos formais de Estado de Direito e de pouca consolidação da cidadania, os eleitores têm se apresentado em comportamento de confronto e acusações.
Numa Política de Confronto assumida em Campanha Eleitoral também de Confronto, todos os ânimos levaram a condutas de violência e de conflitos pessoais em grupos sociais quase inacreditáveis. No âmbito pessoal algumas amizades foram conturbadas e brincadeiras de todos os dias chegaram ao feito de “policiamento” de percepções. No limite político os rumos tomaram formas espalhafatosas e construídas sobre notícias intencionalmente falsas.
Para além de levar-se a cabo apontamentos de esquerda e direita como parâmetros de acusação, a compreensão dos valores políticos inovados nas eleições não está ainda suficientemente clarificada. Parece acordo firmado que os atuais partidos políticos chegaram ao seu fim como instituições funcionais; a lógica de “nós” contra “eles”, retumbada em frases de efeito [“nunca antes neste país”, “ele não”, “ele sim” etc.] tem levado à sangria do sistema político e sua organização.
Muitas pessoas que foram para as ruas reclamar em campanhas de críticas aos governos [“vem pra rua”, por ex.] hoje estão em lados opostos; muitos que votaram em grupos que se autorreferenciam de esquerda, hoje se posicionam como conflitantes. O posicionamento eleitoral, com muitos que se amorteciam nos amparos do Estado como carreira e profissão deixando de ser eleitos, compromete as condições de se fazer gestão que marcaram todos os governos. A gestão concentrada em clientelismos [firmado nos “amigos comissionados”], patrimonialismo [fazendo do público/coletivo em pessoal/privado], e se desligando dos interesses e necessidades da população, foram colocados sob crítica severa dos resultados eleitorais.
E tudo isso não se refere especificamente a um partido político [PSDB, PT, MDB e tantos outros]. Também não é uma condição ideológica de esquerda ou direita, fascistas ou revolucionários, mas uma situação prática da cultura política nacional presente em todos os âmbitos [Prefeituras, Governos Estaduais e Governo Federal].
Nenhum eleitor se torna ou se tornará um fascista ou um revolucionário porque vota ou votará neste ou naquele candidato. Não somos de esquerda ou de direita no campo ideológico; somos patrimonialistas. Todos os governos [novamente de prefeituras ao governo federal, além das Câmaras de Vereadores ao Congresso Nacional] foram montados por clientelismos e patrimonialismo. É só verificar a “condenação” aos “comissionados” politicamente vassalos que não apoiaram os candidatos apontados pelos Prefeitos: há aqui uma atitude de autoritarismo e desvio da condição de impessoalidade na gestão pública.
A política tradicional, de campanha eleitoral e de gestão pública, está de aviso prévio. A eleição atual não revela nenhuma atenção sobre planos de governo [a não ser para acusação] ou promessas de solução a quase todos os problemas [senão a mesma de outras campanhas], apenas e tão somente o repúdio ao fato de tantas eleições terem se passado e os problemas permaneceram os mesmos e se intensificaram. As próximas eleições municipais serão condutos dessas novas aclamações dos eleitores. Se não entendermos com cuidado os fundamentos desse novo comportamento, teremos dificuldade em conversar com os eleitores mais amadurecidos
Nossa Democracia e nossa Cultura Política, que surgiu torta e sem povo, fraca e faminta, só poderá ser revigorada quando se enxergar no espelho, ver a si mesma e reconhecer seus desajustes. Essa tarefa é nossa! Vem aí as AULESTRAS EXITUS! Aguarde!