O EXÍLIO DO SOLDADO
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
Em uma rara ocorrência na atualidade, não temos um elemento criado na ciência para eliminar um mal virial. Todo o poder que nos permite segurança ontológica [a sensação de estar a salvo] parece se dissolver no ar. Não há medicamento, pílulas ou vacinas, para diminuir ou eliminar os efeitos da doença.
Quando não há medicamento, recorremos exclusivamente ao comportamento. A única coisa a fazer é isolar o vírus promotor do mal. Mas o bichinho não anda sozinho, e nem vive parado na esquina esperando por alguém. Precisa ser carregado de um lado para o outro por um contaminante.
Ainda que cada vírus tenha vida curta [em torno de 14 dias, os mais idosos], cada vez que encontra uma nova casa, um novo hospedeiro, se reproduz e renova seu tempo de vida – desse dia em diante, mais 14 dias. Então, se cada um pudesse se recolher em um local e não promover a renovação da vida do vírus, então o tal bichinho não conseguiria se manter, posto que não se reproduziria. Mas essa medida ficou no passado.
Então apelamos ao isolamento social como medida de negar ao vírus a possibilidade de sua reprodução. Quando não é possível se isolar, passamos a regular o comportamento para diminuir a chance de que o danoso se mantenha renovado: distância de dois metros entre as pessoas [porque o bicho não voa tão longe], máscaras para reduzir seu espaço de contaminação, álcool nas mãos para que essa extensão física de nosso corpo não carregue consigo contaminação aos outros.
No limite, a solução seria cada um ser ensacado para evitar a propagação do coroa [corona] e manter suas atividades habituais, mas isso é muito pouco razoável. Limitamos parte de nossos corpos, antes expostos, e seguimos em quase-exílio.
Essas medidas de comportamento social, na ausência de um soldado medicamentoso ou vacinal, exigem de nós a severa mudança dos hábitos sociais. Isso é suportável, porque temos indicação de tudo isso vai passar mais cedo ou mais tarde.
O problema central é como conciliar essas medidas com a manutenção segura dos dias seguintes. Assim nasce a segunda perturbação social: como manter a economia relativamente segura, os empregos a salvo, o comércio comercializando, os consumidores consumindo, se essas necessidades são vinculadoras dos relacionamentos sociais?
Tarefa difícil para um tempo curto! Especialmente em conglomerados [vários aglomerados] urbanos onde há vários pontos de para se viver e se trabalhar e as pessoas se diluem entre multidões, a possibilidade de controle diminui intensamente.
Há vários esforços para que o bicho-vírus não se renove milhares de vezes por dia. Mas a política, como fenômeno de poder, é o que mais tem causado desastres pelos exemplos que se nos apresentam. E um pouco de esperança, quando podemos pensar que os políticos que traquejam diminuir seus benefícios financeiros diretos [os indiretos estão às escondidas] poderiam viver muito bem com tal redução para sempre.
Não como bondade que doam, mas como direito de cidadania que nos é devido.
Sugestão de trilha sonora: Con Te Partirò
Artista: Andrea Bocelli
Álbum: Bocelli
Data de lançamento: 1995
Gênero: Crossover clássico
Crédito da foto: BBC News BRASIL Notícia sobre o Corona Vírus.
“Em Turim, no norte da Itália, cantora de ópera cantou de sua varanda.” Para acessar a matéria jornalística na íntegra, clique aqui: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51910399
Crédito do audiovisual: You tube.