PACTO DE LIBERDADE, ESCOLHAS POSSÍVEIS
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
A Liberdade, como valor, carrega os mais elevados preceitos morais e éticos. Mas há muita confusão sobre a liberdade que queremos e a liberdade possível. Bradando para lá e para cá, alguns imaginam que a liberdade de existir supera qualquer coisa. Liberdade, aqui, se confunde com desejo. Então, pelo fato de se imaginar livre, se pode desejar. Essa operação lógica não condiz com a própria existência. A única legitimidade que se encarrega da existência é o direito à vida, e não o direito ao desejo.
Ser livre é, necessariamente, assumir limites perante a existência do outro. Por isso, a liberdade é, e sempre será, relativa ao outro. Todo o patrimônio da ampla liberdade é muito mais uma vontade do que uma realização. Só poderei ser amplamente livre submetendo todos os outros aos meus caprichos. Nessa conta a liberdade não pode ser, de fato, um ato livre. É, por todos os lados, um ato de submissão e de imposição.
A liberdade possível implica, inevitavelmente, em um ato contido pelos limites da existência em sociedade, em comunidade, em grupos. Liberdade se concretiza como um pacto filosófico e prático. Ser livre é aceitar tais limites. A liberdade ampla somente é possível em circunstância de solidão ou isolamento, portanto, sem relação com os outros. Se você quer ser livre em sentido amplo, então deverá se isolar em uma floresta distante, isolada, ainda não explorada. Lá, faça o que quiser, porque não terá implicação com os outros.
Aqui, tudo o que você faz tem sentido se houver ressonância social para o outro, com o outro. Liberdade, neste sentido, é um acordo social em que as partes aceitam diminuir sua condição individual em nome de relacionamentos orientados por valores comuns. É esse acordo que, limitando os desejos pessoais, permite que possamos andar nas ruas sem imaginar que todo e qualquer um poderá impor sua liberdade individual sobre os outros.
Somos livres se seguirmos as regras. Livres dentro das regras que concretizam os acordos comuns. A luta entre a vontade individual e as regras da vida em sociedade se trava ainda no período da infância, quando os adultos passam a dizer o que é certo e o que é errado para que os novos membros do grupo incorporem [tornem parte do corpo] as regras da vida social. É por isso que as crianças ouvem muitos “nãos” como elementos de limitação de sua vontade pessoal. Quando passam a aceitar tais regras simplesmente deixam de ouvir os “nãos”, viram seres sociáveis, de sociedade.
Em todo o caso, dentro das regras temos escolhas. Escolher é exercitar seu direito de exercer a liberdade possível ou a liberdade social e política. Escolher em quem votar, por exemplo, a despeito de toda a institucionalidade que restringe o eleitor como cidadão, não pode ser uma troca de favores. A política, como a arte de se ter esperanças, deve resguardar o voto como uma responsabilidade pública. Um pacto de liberdade.
O voto como troca é uma atitude de quem combina uma propina social e política tendo como moeda a eliminação da liberdade de escolha. Escolhas são atos de liberdade. Trocas são atos de mediocridade. Se você faz trocas eleitorais, perde a liberdade política. Tragédia política de quem, pouco depois, vai às ruas reivindicar seus direitos. Direitos ali atrás subjugados por vantagens pessoais.
Sugestão de Trilha Sonora: DIAS DE LUTA
Artista: IRA!
Álbum: VIVENDO E NÃO APRENDENDO
Data de Lançamento: 1986
Crédito de Imagem e audiovisual: Google imagens/youtube