PANDORAS E PANACEIAS

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

Aos leitores: não há neste artigo quaisquer juízos de valor com referência a qualquer fato ou pessoa em especial, apenas esforço analítico sobre os tempos políticos atuais. Compreender é procurar entender.

O tempo atual é de crise globalizada. Em todos os lugares e sobre todas as pessoas flutua a insegurança de contaminação por vírus com efeitos pneumônicos graves. Para tudo é fundamental se comprometer com os especialistas e deixar de lado as sugestões intuitivas e imprecisas. Para esta Caixa de Pandora [capaz de liberar todos os males da humanidade] procuremos a Panaceia [remédio para todos os males].

Um dos males que vagam como doces, aparentemente com cobertura de boa intenção e recheio de salvação, são os oportunismos. Os mais narcísicos [para se ver mais tempo no mesmo lugar] e hedonistas [para gozar de seus prazeres como modo de vida ou profissão] se revelam no canto da sereia de adiamento das eleições municipais. Parece ser atraente: deixar de gastar com eleições e repassar os recursos para a saúde em período de crise epidemiológica.

Braçada à braçada, se o caso é de economia, é o momento adequado de o Parlamento brasileiro [Câmara de Vereadores, Assembleias Legislativas e Congresso Nacional] reduzir seus custos. Somente o Congresso Nacional custou em 2019 o valor de R$ 10,8 bi. O segundo mais caro do mundo.

Uma revisão de lei orçamentária também poderia cobrir a forma de organização e suas dinâmicas nos poderes Executivos com suas “locações” de cargos comissionados cuja finalidade explícita [nunca assumida] é de suporte à rede de poder político com recursos de impostos e taxas e contribuições e... Considere-se também os jantares e vinhos judiciários.

Ao fim e ao cabo temos uma excelente oportunidade para apreciar as origens e destinos dos recursos públicos [já que o Governo não produz riqueza, mas a controla e a consome]. Sem oportunismos, se é para economizar recursos públicos, pois que possamos começar por onde ele mais se esvai. Sem qualquer contorcionismo teórico ou argumentativo, não podemos retirar da população a única coisa que ainda lhe “concede” alguma oportunidade de mudanças.

A insatisfação com os resultados políticos e com a autopreservação dos dirigentes frente às instituições de poder se revela como contrários a qualquer medida de adiamento da “cidadania eleitoral”.

O ganho parece ser outro: o prolongamento de mandatos e o exílio do eleitor frente a urna eletrônica. A conveniência de políticos e seus pendurados é uma demia [“doença” generalizada] em nossa história política e em nossos dias atuais. As “ideias novas” são vernizes que se espalham em madeira colonizada por cupins.

Como Ulisses, um ser humano que luta contra muitos males para tentar retornar à casa [Homero, Odisseia], não nos rendemos aos cantos de sereias que, aparentemente belas, são capazes de nos seduzir ao nada existencial. 

Sugestão de trilha sonora:  ALMA

Artista: Zélia Duncan

Álbum: Sortimento

Data de lançamento: 2001

Indicações: Grammy Latino: Melhor Canção Brasileira

Crédito imagem e audiovisual: google imagens e youtube