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POLÍTICOS-INFLUENCERS

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

A comunhão de um sentido para a vida, aparentemente, fora jogada pela janela com a água do banho da criança. Nos tempos da internet, cada um, em si mesmo, sente-se controlador das ocasiões e detentor dos desejos mais umbilicais. Se não quero mais uma amizade, como criança emburrada, corto a interação de um ser de minhas redes sociais [local onde a rede importa isoladamente e o social é uma vontade pessoal]. Dado o problema por resolvido, não resolve o problema. Perde o treinamento e a formação para fazê-lo mais adiante.

Como controlador do joystick social, a vida se dissolve em redes digitais [operada somente com os dedos], sem senso de responsabilidade social ou de comunhão com os outros. O importante é ter likes de muitos pelos quais não me interesso quase nada, com os quais não tenho nenhum con-vívio, e sem os quais sigo minha vida pessoal. Dos friends das redes sociais interessa-me somente que digam que gostem do que eu fiz em um certo momento e que, portanto, como por um milagre dos céus, gostam de mim. Então, sinto-me adorado, fortalecido, querido, dominante. Isso me conforta como internauta [um viajante das redes sociais que dedica muito de seu tempo à internet, como um astronauta no espaço sideral].

Isolado do mundo das coisas, esquecido da realidade do chão onde pisa, ignorante da vaca-ordenha-leite e do trigo-pão e das sequências concretas da vida, imagina-se capaz de controlar um conjunto de sistemas da vida. Descobre depois que pela falta de exercícios mínimos será um paciente da medicina. Perderá todo o senso de controle de si [nunca o teve] e a partir daí, diagnosticado com problemas de saúde, será comandado pela aferição médica [medicamentos, horários, exames, visitas lhe gritarão seu isolamento]. Não poderá mais querer fazer. Não serão likes a lhe provocar sentimentos de satisfação, mas o desejo da cura para lhe repor a condição de existência.

Com o sentimento de controlador do jogo da vida, desconhece ser apenas um tripulante de uma navenet a viajar pelas abas propostas e acessar o que lhe concedem e a comprar coisas e serviços que nunca desejou, mas que, por encanto cerimoniais, se tornara necessário para continuar a viagem internética. Os influencers são os símbolos de uma caminhada espacial que se comunicam com os “passivos espectadores” por expressões genéricas aglutinativas [galera, pessoal, gente]. As redes de amizade são de pessoas “sem personalidade”, de dedos sem corpos, de identidades sem rosto.

Essa sociedade de impessoalidades se reflete nas camadas de processos políticos e eleitorais de candidatos a buscar adesão [likes] sem se importar de fato com a vida das pessoas, sem atualizar suas responsabilidades públicas, sem mover suas condutas para provocar desenvolvimento social e urbano e rural, educacional e de saúde, de assistência social.

O desespero por likes e aceites de adoração e boa performance virtual se traduz na pergunta que o umbigo executa pelo farfalhar da boca: quantos likes? Qual o tamanho do alcance? Quantos compartilhamentos? Os Políticos-influencers passam a usar tempo demais para falar de si. Desconhecem o desempenho da Assistência Social, das necessidades educacionais, dos regimes de trabalho. Para os Políticos-influencers os eleitores só têm rosto e corpo nos dias eleitorais. Fora disso eleitores-likes. O leite nasce na caixinha!

 

Sugestão de Trilha Sonora: ROCKET MAN

Artista: ELTON JOHN

Autor: BERNIE TAUPIN and ELTON JOHN

Álbum: HONKY CHÂTEAU

Ano de Lançamento: 1972

Crédito de Imagem: PINTEREST



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