QUAL O NOME QUE O NOME TEM?
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
As sociedades que se formaram antes do período Moderno, dominadas pelos fenômenos religiosos, sempre colocaram a formação da organização e da ordem social como um fato fora do controle dos homens. A origem de tudo era colocada como uma vontade exterior à sociedade, superior à humanidade.
Na Modernidade, especialmente em sociedades organizadas em torno de um Estado como mecanismo de ordenação das vidas humanas, a vontade e o trabalho orientado à construção do futuro passam a pertencer ao conjunto dos humanos e não a um ser exterior. O deslocamento é executado em nome de regras sociais punitivas [como as leis] e no desejo esperançoso de um mundo no futuro. Na modernidade tudo [ou quase tudo] é realizado pelas mãos dos homens. Deus já não nos castigará; o veneno de se viver neste mundo é produzido pelas mãos humanas. Guerras, fome, pestes são coisas com as quais convivemos pelo efeito de nossas ações coletivas.
Na Modernidade as leis da sociedade, a moral das comunidades, as riquezas da economia, as misérias que matam, os efeitos dos ecossistemas sobre nós, o aquecimento global, a devastação das florestas etc. são resultados dos nossos complexos organizacionais. Nos períodos pré-modernos o futuro pertencia a forças exteriores ao mundo social, as facetas descritivas sobre os acontecimentos eram benevolências ou castigos superiores. Agora, na Modernidade, tudo o que acontece ou deixa de acontecer é um efeito de nossas próprias ações. O futuro é de nossa responsabilidade.
O mundo coletivo foi conquistado como reapropriação do homem, ainda que para muitos a lógica do sagrado possa explicar toda e qualquer atividade humana. Quase uma covardia, posto que Deus, por sua própria sacralidade, concedeu ao homem o livre-arbítrio, isto é, “seja responsável por seus atos e deixe de botar na minha conta as suas falhas”, teria, talvez, dito.
Para explicar o mundo, desde então, recorremos à ciência. Ciência como um conhecimento capaz de explicar as forças de atração gravitacional, de deixar em pé um prédio, de nos fazer entender a formação das cores como capacidade neurossensorial diante de ondas de luz, de permitir a compreensão do voar... De saber como funciona o corpo humano e atuar sobre as mazelas que se lhe afeta, da corrente sanguínea, dos órgãos, das células, das artérias, das veias...
Para ter esperança no mundo do dia de amanhã, pois hoje o futuro parece muito distante, os humanos passaram a colocar sua carga de solução na Educação. A partir do Estado – que organiza nossas vidas, e dos governos – que executam as decisões de Estado, decidimos por uma série de Políticas Educacionais. O futuro está nos passos educacionais, e o caminho até lá depende das políticas.
No Brasil, a despeito da pandemia, estamos com o futuro comprometido. Universidades Federais com orçamentos insuficientes diante da autonomia sempre tão requerida; escolas de ensino médio sem preparar nenhuma geração; escolas municipais sem preparo para preparar. É hora de repensar a forma segundo a qual organizamos a educação das crianças, dos jovens e dos adultos. É hora de refazer a forma de financiamento da Política de Educação. É hora de preparar com mais responsabilidade aqueles que têm que preparar a esperança. O gosto bom que o gosto do futuro tem, tem os temperos de agora. E estamos comendo sem nos nutrirmos; comendo sem nos alimentarmos. Qual o nome que o nome tem?
Sugestão de Trilha Sonora: RAI DAS CORES
Artista: CAETANO VELOSO
Autor: CAETANO VELOSOCAETANO VELOSO
Álbum: ESTRANGEIRO
Data de Lançamento: 1989
Crédito de Imagem: Pinterest