TEM BODE SOLTO!
JANUÁRIO, Sérgio S.
Mestre em Sociologia Política
Uma das formas de conduzir um interesse amplo é colocar o “bode na sala”. Este bordão serve para produzir um cenário ruim e gerar uma conduta de que “cedemos e agora temos um cenário melhor”. Expressões que servem para iludir a origem do fato e produzir um resultado desejado.
Parece que temos um “bode na sala” quando ouvimos falar da necessidade de se criar um “Fundo de Financiamento da Democracia”. É quando o “bode” aparece. O valor da democracia está em suas formas de representação dos interesses coletivos ou da sociedade (algo sempre vago); está em seus espaços para a participação direta da sociedade (lembremos que “Ficha Limpa”, “10 Medidas contra a Corrupção” tiveram sua origem fora do Congresso Nacional).
A Política Institucional nunca deixou de existir no Brasil. Mesmo durante o regime de ditadura militar existiam partidos políticos, havia parlamento. É evidente que suas condições de existência estavam fora de parâmetros democráticos, mas isso não significa dizer que inexistia política institucional.
Atualmente, estamos percorrendo e sentindo as auguras e intolerâncias do Congresso Nacional frente aos nossos interesses. Primeiro o que se fala ser “Reforma Política” não passa de um “mexe-mexe eleitoral”. Reforma Política requer a convicção de que a mudança política é bem maior do que alterações eleitorais que visam quase que exclusivamente formas de campanha e concorrência.
Democracia não precisa e nunca precisará de “Financiamentos”, públicos ou privados. Simplesmente porque Democracia não é o que custa e sim o que vale. É a Política Institucional que necessita de financiamentos, porque é ela que custa. A criação de um filho custa muito dinheiro (escola, médicos, lazer, roupas, alimentação), mas vale muito a pena. Um sorriso não custa dinheiro, mas vale muito.
Recentemente, durante um almoço, um amigo próximo me falava que “se não conseguirmos entender os problemas, não mudaremos e estaremos sempre apontando para os outros e vivendo um mundo autocentrado”. É necessário discutir o problema mais adequadamente, sem simplismos e com modéstia. E com a garantia democrática de que meu oponente será ouvido, sem o propósito de fazer um “balaio de gatos”.
Existir Partidos Político, Parlamento, Diversidade e Antagonismos não revela uma imposição institucional da democracia, mas são necessários para que se conquiste a democracia. E hoje, embora estejamos com todos esses instrumentos institucionais para gerar a democracia, ainda não a temos. Não é porque não temos uma ditadura que chegamos à democracia. Apenas não temos uma ditadura! Democracia se faz vista por ações, gestos, intencionalidades expostas e claras.
A cidadania ainda não é nosso alimento diário (corrompemos o elementar dos valores democráticos quando não aceitamos os valores e regras de uma faixa de pedestres). De uma democracia que anda com muletas e sem ponto de chegada não surgirá o cidadão.
Democracia não necessita de fundos de financiamento. Nossas instituições ou estruturas políticas de representação custam muito caro (senadores com 90 assessores?), e nossas condições eleitorais também. A Democracia necessita da Política, mas o inverso não é necessariamente verdadeiro. Cada vez que um repórter fala que “A Reforma Política isso ou aquilo”, se referindo ao “mexe-mexe eleitoral”, não faz mais do que deixar o “bode na sala”.
Agradeço a colaboração de Jorge G. neste artigo.
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