<< Voltar

UNIDOS DO PATRIMONIALISMO

JANUÁRIO, Sérgio S.

Mestre em Sociologia Política

 

 

Aos leitores: não há neste artigo quaisquer juízos de valor com referência à política, apenas esforço analítico sobre os tempos políticos atuais. Compreender é procurar entender.

 

Se há muito desejamos transformar o país em um reduto carregado de características de países desenvolvidos, é há pouco que estamos a declamar frases em posicionamentos desejosos de adjetivações ideológicas [extrema esquerda, esquerda, direita, extrema direita].

É substantivo de nossa formação histórica, inclusive entre cientistas sociais e filósofos, a importação de conceitos gerados e desenvolvidos em países europeus e nos Estados Unidos e aplicados sem cerimônia aqui e ali. Esquerda e Direita na Europa têm sentidos muito diferentes daqueles que podemos encontrar em nossa cultura política.

Desde a célebre profusão de “trabalhadores do mundo, uni-vos” [Karl Marx], considerando que a condição estrutural de trabalhador fosse o código genético da economia política, já se discorreu sobre a Política por inúmeras variações. Por muitas críticas, foi no culturalismo que encontramos as possibilidades de interpretações das formações de cada país ou região.

No caso brasileiro, nossa cultura política é aprofundada no Patrimonialismo – quando o público e o coletivo se tornam privado e pessoal. Apenas agora estamos iniciando algumas reformas de caráter econômico liberal. Passos de correção: mais contra o corporativismo e contra os agarrados em privilégios pagos com os recursos de impostos do que como estabelecimento de política econômica liberal.

Um passo curto em dimensão, mas fundamental enquanto luta. O “Ministro-Presidente da Economia” vive se esbarrando em pedras e buracos no Congresso Nacional e conseguindo deixar algumas marcas políticas anunciadas ainda no período eleitoral. Não é “um tiro de prata”, ou “único golpe” revelador de um novo mundo, mas uma política de correção.

Nosso problema não é de posicionamento ideológico – ser de esquerda ou de direita. Isso tem mais o caminho do desejo do que da realidade. Esquerda ou Direita são como fantasmas que arrastam correntes, rangem os dentes e geram medo. Medo que faz nascer líderes de guerra ou heróis.

Nosso déficit parece mais integrado aos problemas de existência democrática e de formação de cidadania. É pelo medo que descuidamos da construção social e política da democracia e da cidadania. Em todos os ambientes encontramos ameaças à democracia, às instituições sociais, à cidadania pelo receio da esquerda ou da direita.

O autoritarismo, mascarado ou sem disfarce, é o algoz que, imaginando-se titânico, parece gerar a salvação. Como choque anafilático coloca em agonia a democracia possível e vagarosa que dá um passo aqui e outro ali sem traçar caminho contínuo. Com partidos políticos artificiais, parlamentares que representam os seus próprios interesses, e com a inversão de eleitores defendendo os eleitos [deveria ser o contrário disso], precisamos ainda lutar contra a corrupção e entrar em guerra contra o Patrimonialismo.

Na linha de formação histórica a que podemos recorrer para comparar trajetórias de países econômica e politicamente desenvolvidos, não amadurecemos nossa condição ideológica, não construímos minimamente a cidadania e o eleitor tem data marcada para perder sua importância – depois de votar você eleitor perde seu poder e seu magnetismo.

Para um pouco de Democracia, falta-nos mais do que imaginamos. Esquerda e Direita são alegorias de carnaval.

 

 

 

Sugestão de trilha sonora: Nem 5 minutos guardados

Artista: Titãs

Álbum: Acústico MTV

Data de lançamento: 1997

 

 

 

Créditos imagem e audiovisual: Pinterest // youtube

 

 



Assine nossa newsletter

Insira o seu e-mail e receba novidades